Nossa Família

Pode ser Bento, ou Pereira, ou Bento Pereira.

Entre as montanhas e vales, um homem de pouca prosa e olhar perdido na linha do horizonte encontrou, não por acaso, uma moça com os olhos azuis da cor do céu. Delicada, as mãos adestradas para a arte e para o trabalho doméstico. Encontro que já estava marcado.

Família edificada com os pés firmados na terra, alternando o tempo da chuva e do sol, tempo de plantar e de colher. Tiveram cinco filhos, perderam dois. Movimento… A família com muitos agregados e a casa que já servia de pouso para quem necessitava.

A lenha vinha de longe, era música alegre quando o fogo pegava e estralava. O cheiro forte da lenha era como incenso que purificava a vida. A fornalha era usada para o biscoito e sequilho, que eram guardados em fardos brancos sobre o armário, que servia de estoque para a família que chegava sem avisar, sempre bem vindos. Tudo era feito em mutirão: o preparar da terra, arando com a junta de boi, o plantio, a colheita, a festa da celebração.

Outra vez entre as montanhas e vales, uma jardineira. O motorista, cabelos pretos encaracolados e com o olhar fixo na estrada, parou para um aceno. Moça clara, com um

vestido azul com margaridas brancas, mala pequena com uma troca de roupa para ir à missa. Foi assim que entrou na jardineira e na sua vida. Outro encontro que já estava marcado.

Pode ser Bento, pode ser Pereira ou Pereira Pereira.

Casaram-se e tiveram oito filhos, vinte e um netos e dois bisnetos. Foram para o Paraná plantar café e depois de muito trabalho e filhos criados, suas raízes mineiras convidaram ao retorno. Outra vez entre as montanhas e vales, os pais receberam os filhos e os netos, aqueles que na verdade nunca saíram dali.

Hoje, entre as montanhas e vales de Minas Gerais, a casa está cheia. Os oito filhos voltaram para escrever novas histórias.

Um pomar, tanques de peixes, um bom galinheiro, uma linda fogueira, muita festa na cozinha e prosa ao redor da mesa. Tudo ainda é feito em mutirão: dia da pamonha, noite da pizza, lindas fotos de passarinho, muitos panos cortados, costurados e bordados, barro amassado, quadros pintados, poemas escritos, nascentes de rios conservadas, casas sendo construídas e muitos aniversários comemorados.

Entre as montanhas e vales, a casa que já servia de pouso virou pousada.